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Inclinação Cinematográfica #06 – O circo chegou!

Escrevo hoje o último post da série Inclinação Cinematográfica do ano. E pra equilibrar as coisas (mas não só por uma questão de equilíbrio) falarei de um filme nacional e assim então os seis posts da série terão três filmes nacionais e três filmes estrangeiros.

E contrariando o que fiz até agora, quando fui buscar clássicos do cinema como Laranja Mecânica por exemplo, e produções não tão recentes, falo de um filme que entrou em cartaz nos cinemas brasileiros em outubro e que já levou o blogueiro pra assisti-lo duas vezes.

Falo hoje de O Palhaço, de Selton Mello.

Só de dar uma olhada rápida nessa série Inclinação Cinematográfica dá pra perceber o gosto deste que vos fala por filmes que contam com a marca de Selton Mello, já falei tanto de Lavoura Arcaica quanto de O Cheiro do Ralo.

A escolha peço Palhaço segue essa linha e além disso tem vários outros motivos, antes de mais nada também já queria afirmar que na minha singela opinião o mais novo filme de Selton Mello é o melhor filme do ano de 2011. Por mais polêmico que isso possa parecer (de cara já me vem na mente o ótimo Cisne Negro de Darren Aronofsky), falo isso pois foi um filme que me impactou (acho que essa é a palavra) demais!

Selton Mello, tanto quanto diretor, quanto como protagonista (na pele do palhaço Pangaré) conseguiu captar muito bem as nuances do que imagino ser um circo de verdade (circo nacional que parece possuir mazelas semelhantes ao próprio cinema nacional, tais como: falta de aceitação da própria população, falta de todo aquele glamour hollywoodiano, etc..) e também as nuances daquilo que vivencio e procuro sentir e entender sempre: a mineirice.

A escolha por filmar todo o filme no estado de Minas Gerais foi muito acertada. Valorizando as serras (e as propagandas dos postes da CEMIG) enquanto “aspectos naturais” e também as figuras que vão surgindo na trama enquanto “aspectos sociais”: o cara de boné e terno pilotando uma barra forte, os prefeitos, o matuto de beira de estrada e até mesmo a gente da cidade não tão pequena, não tão do interior, que também são muito Minas Gerais: a galera do Aldo Auto Peças, o dono da loja de eletrodomésticos, etc..

 

 

Porém o filme não se atém exclusivamente ao aspecto circense e mineiro, isso é como que o pano de fundo, a ambientação do filme que vai se construindo com uma sensibilidade ímpar, é difícil encontrar um filme que te faça rir e chorar de fato, isso aconteceu comigo porque além de ter mergulhado completamente na história também senti que pelo menos uma das buscas de Selton Mello foi transmitir e fazer muita gente conhecer, o lado humano do palhaço, o lado sábio do matuto e, além de tudo, a importância dos lados ocultos e singelos, a importância das pequenas coisas por vezes esquecidas por todos.

Cada personagem tem de fato o seu papel na trama. Embora Pangaré (Selton Mello) e Puro Sangue (Paulo José) sejam os donos do Circo Esperança e os protagonistas do filme. Todos os personagens, dentro do possível foram bem explorados. As piadas do filme encontram bom lugar em todo pessoal do circo, da estranheza com os sonhos com cabras até as falsas cidadanias russas, toda a trupe do Circo Esperança vai deixando sua marca. Além deles, personagens como o inconformado Delegado Justo, os desajustados Irmãos Beto e Deto e a personagem que possui papel de extrema importância dentro da trama, é o dono da loja de eletrodomésticos, interpretado pelo eterno Zé Bonitinho (Jorge Loredo).

Enfim, além de valorizar ainda mais o próprio Selton Mello, enquanto artista, diretor, roteirista, o filme ainda valoriza e muito os outros atores tanto os novos, quanto os “antigos”, enquanto homenagens e reconhecimento  à sua trajetória na história do humor nacional.

Daria pra escrever mais linhas e linhas sobre o filme, falar de perto de cada personagem, das ideias que a trama passa, as simbologias possíveis do ventilador, de São Filomeno de tudo, mas prefiro parar por aqui, como eu já disse acima, O Palhaço, foi, pelo menos dentre os filmes que eu assisti nesse ano de 2011, o melhor de todos. Acaba aqui a série Inclinação Cinematográfica de 2011.